Ser mãe e ser brasileira

O ofício mais antigo do mundo, na minha opinião, é o cuidado. Somos sujeitos coletivos, nascemos em rede e nos alimentamos do cuidado. As veias da humanidade são o cuidado. E quem dedica a maior parte do tempo a cuidar? Nós, mulheres.

Paula Rosanne

5/29/20232 min ler

No Brasil dedicamos 10,4 horas por semana a mais que os homens aos trabalhos domésticos ou ao cuidado de pessoas. Cuidamos dos filhos, da vó, da tia, do sobrinho, do primo, do gato, do cachorro, do papagaio, do periquito, da casa, das plantas,…

Essas tarefas de cuidado, tão fundamentais para o funcionamento da nossa sociedade, não são remuneradas. 

Se a mulherada começasse a pedir um Pix pelos serviços de cuidado que vem exercendo o sistema estaria endividado e cheio de boleto pra pagar. 

Vivemos em uma sociedade onde cuidar é “coisa de mulherzinha”. Nós mulheres dedicamos  aproximadamente 18,1 horas semanais aos cuidados da família. Em um mundo onde o dinheiro é o principal meio de poder, o fato das mulheres dedicarem grande parte do seu tempo a atividades não  remuneradas, nos coloca em situações desiguais.

Quando eu recebi o diagnóstico de câncer de mama, em plena pandemia e com fronteiras fechadas, todo mundo me perguntava: Quando a sua mãe vai chegar na Argentina para cuidar de você?

Não importava o fato do meu pai ser super  presente e amoroso. Quem tinha o dever social de cuidar de mim era a minha mãe. Sua mãe vai chegar antes da quimio?

Por mais que o meu namorido seja o cara mais cuidadoso e carinhoso que eu conheço, ainda assim, até os mais desconstruídos me perguntavam:  quando sua mãe vai chegar pra cuidar de você? 

Ela chegou e cuidou. Ela voltou e continua cuidando. 

Ficamos careca no ano passado no dia anterior ao dia das mulheres. Eu porque não tinha opção, ela porque escolheu cuidar.

Não tem como não romantizar o cuidado porque cuidar é tão romântico quanto essa foto. O que sim, não podemos naturalizar, são as desigualdades de gênero nas responsabilidades e na remuneração salarial. 

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Referências