O que é memória
Mas, afinal, o que é memória? E memória coletiva? Pra que serve o passado? Por que esquecemos de alguns acontecimentos históricos e nos lembramos de outros? Existe uma disputa pela forma de recordar??
Paula Rosanne
5/20/20233 min ler
Vivemos em uma sociedade que reconhece o valor da memória individual. É um elogio falar que alguém tem uma boa memória. Ter a capacidade de recordar as coisas é um verdadeiro valor na nossa sociedade, é algo para se orgulhar.
Todo mundo quer ter uma boa memória. Se você jogar no google “dicas para melhorar a memória” você vai encontrar um monte de conteúdos e recomendações, que vão desde pílulas a jogos de memorização. Existe um interesse social pelo tema.
Essa nossa obsessão pela memória não é à toa, ela existe porque a memória é a ferramenta que nos permite guardar informações úteis e aprender com as nossas experiências.
Na nossa sociedade ter uma boa memória está muito relacionado à saúde, enquanto esquecer sistematicamente, está associado a alguma patologia.
Quando alguém anda muito esquecido as pessoas vão logo perguntando se tem alguma coisa errada. Será que ele está muito estressado com o trabalho? Será que ela está dormindo pouco? O esquecimento geralmente é visto como um sinal de que algo não está indo bem.
Valorizamos a memória porque sabemos que ela é importante para tudo, seja para realizar tarefas cotidianas, como lembrar de trancar a porta ao sair de casa, ou para acumular conhecimentos mais complexos, quando um estudante de medicina precisa lembrar do conteúdo da prova de anatomia.
Nós, humanos, usamos a memória para conectar o presente com o passado, seja de forma individual ou coletiva.
A Memória nasce a partir das nossas experiências. Devido ao seu caráter subjetivo, a memória não é rígida, está sempre filtrada pelo presente e em constante transformação.
Todos queremos ter uma memória saudável
Memória coletiva
e por um lado é fácil reconhecer o valor da memória na nossa vida pessoal, por outro, negligenciamos a importância da memória coletiva, que é a forma que socialmente lidamos com as nossas experiências passadas.
A memória coletiva tem um forte poder de transformação no presente e por isso é sempre disputada por diferentes setores da sociedade.
Existem aqueles, por exemplo, que olham o passado com intenção de transformar a realidade atual, enquanto para outros, pode ser que seja mais conveniente conservar as coisas como sempre foram.
A gente sabe que passado é passado, que não temos como voltar atrás e mudar as coisas que já aconteceram, porém, por meio da memória podemos mudar o sentido das nossas experiências.
A construção de símbolos, rituais, datas comemorativas, de reflexão, homenagens, estátuas são formas da sociedade ressignificar o passado e até mesmo se comunicar com gerações futuras.
É importante a gente ser conscientes de que é desigual o potencial dos diferentes setores da sociedade de impactar a memória coletiva.
A memória coletiva é sempre seletiva e disputada entre setores da sociedade com níveis de poder econômico, social e político diferentes.
Sabendo disso, é importante reconhecer que para construção de uma memória coletiva que seja popular, contemple as minorias e que reconheça as relações desiguais de poder que atravessam o presente e o passado do Brasil só é possível por meio de muita resistência.
Que datas queremos lembrar como sociedade? Que personagens estão nos porta-retratos da história do Brasil? Quais acontecimentos foram parar nos porões da memória do nosso país?
As respostas para essas perguntas nos ajudam a descobrir que sentido temos dado ao nosso passado de forma coletiva e o que temos aprendido com ele.
Elizabeth Jelin. “La lucha por el pasado: cómo construimos la memoria social”. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Siglo Veinteuno, 2018.
Ricoeur: La Lectura del tiempo pasado: memoria y olvido. Universidad Autónoma de Madrid, Arrecife. España, 1999.
Mario Benedetti: El Olvido está lleno de Memória
Referências
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SOBRE NÓS
O Memória Popular Brasileira é um projeto que visa lembrar o Brasil de sua história e promover uma memória coletiva popular, abordando as experiências das minorias e as desigualdades de poder no presente e no passado.
Através de um podcast disponível em várias plataformas digitais, o projeto compartilha memórias pessoais e biográficas, entrelaçando-as com a história do país, com o intuito de evitar a repetição de erros passados e buscar um futuro mais justo e inclusivo.