Ailton Krenak: a memória viva dos povos da floresta

A sabedoria ancestral ecoa na vida de Ailton Krenak.

Fran

1/15/20243 min ler

Memorios@s,

Vocês já ouviram falar de Ailton Krenak? Pois é, ele é uma das lideranças mais populares dos povos da floresta na atualidade no Brasil. Seu olhar transcende o passado, reverbera o presente e ecoa um futuro esperançoso.


Líder dos direitos dos povos indígenas, ativista socioambiental, filósofo, poeta, escritor, imortal da Academia Brasileira de Letras e doutor honoris causa pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Ailton Krenak possui uma trajetória marcada por manter viva a memória e a cultura dos povos indígenas.


Nascido em 1953, na região conhecida como médio rio Doce (“Watu”, como nomea o povo indígena Krenak), dentro da Terra Indígena Krenak, em Minas Gerais, faz de sua vida uma luta constante em defesa da natureza, da floresta e da tradição do seu povo.

“Krenak” significa, etimologicamente, “cabeça (kre) da terra (nak)”. Os Krenak foram nomeados pelos colonizadores portugueses como “Botocudos do Leste” no século XVIII, devido ao uso de botoques auriculares e labiais, adornos usuais em sua cultura naquele período.

A luta pelos direitos dos povos indígenas

Durante a década de 1970, em um contexto de Assembleias Indígenas no Brasil, lideranças começaram a pensar na criação de uma organização. A partir disso, Krenak se envolveu ativamente na fundação da Aliança dos Povos da Floresta e da União das Nações Indígenas (UNI), reivindicando a demarcação das terras e direitos dos povos indígenas na Constituição de 1988.

Ailton Krenak entre os Yanomami. Foto - Claudia Andujar
Ailton Krenak entre os Yanomami. Foto - Claudia Andujar

Ailton Krenak. Foto: Fondation Cartier

Ailton Krenak entre os Yanomami. Foto: Claudia Andujar

“Sempre me reconheci como um sujeito coletivo. (...)

Criamos um movimento indígena como uma expressão coletiva porque somos assim.”

(Ailton Krenak)

Em 1987, Krenak discursou na Assembleia Legislativa enquanto pintava sua cara com tinta preta de jenipapo, simbolizando luto em sua cultura. Com isso, marcou a memória de muitas gerações, obtendo visibilidade internacional e se destacando como um dos líderes dos povos indígenas.

Em 1987, Krenak discursou na Assembleia Legislativa enquanto pintava sua cara com tinta preta de jenipapo, simbolizando luto em sua cultura. Com isso, marcou a memória de muitas gerações, obtendo visibilidade internacional e se destacando como um dos líderes dos povos indígenas.

Krenak: a memória que se mantém viva

A sabedoria milenar compartilhada por Krenak nos enche de esperanças quando o tema é memória. Segundo ele, a memória é muito importante, sendo o resultado de ações e decisões dos nossos antepassados.

“Somos um contínuo de memória que recebemos dos nossos antepassados”

(Ailton Krenak)

Entre sua lista de publicações, seu o livro “Ideias para adiar o fim do mundo”, narra sua perspectiva sobre nossa história e memória:

“A modernização jogou a gente do campo e da floresta para viver em favelas e em periferias, para virar mão de obra em centros urbanos. Essas pessoas foram arrancadas de seus coletivos, de seus lugares de origem, e jogadas nesse liquidificador chamado humanidade. Se as pessoas tiverem vínculos profundos com sua memória ancestral, com as referências que dão sustentação a uma identidade, vão ficar loucas neste mundo maluco que compartilhamos.”

(Ailton Krenak)

Krenak: a memória que se mantém viva

Em 2005, Krenak colaborou na escrita da proposta da Unesco que criou a Reserva da Biofera da Serra do Espinhaço, sendo membro do Comitê Gestor até os dias de hoje. Em 2017, o cineasta Marco Altberg lança o documentário “Ailton Krenak: o sonho da pedra, narrando a trajetória de Ailton Krenak pelo próprio Krenak.

E mais! Ao estudarmos a filosofia de Krenak, observamos seu olhar crítico sobre a forma de ver e viver neste mundo contemporâneo. Ou seja, para ele a maioria das pessoas vivem e entendem a vida sob a perspectiva eurocentrista do sistema capitalista como a única forma possível de viver.

Por isso, seu pensamento é um resgate da memória ancestral brasileira, florescendo possibilidades de uma conexão com nós mesmos, nossa natureza e nossas origens.